sexta-feira, 8 de abril de 2011

João de Deus

A poesia lírica de João de Deus, com sua serenidade e seu estilo simples, é um dos últimos momentos significativos do romantismo em Portugal. João de Deus Nogueira Ramos nasceu em 8 de março de 1830 em São Bartolomeu de Messines, no Algarve. Estudou em Coimbra e, por algum tempo, entregou-se à vida boêmia. Formou-se em direito em 1859, quando já escrevia poemas com a intenção de recitá-los para os amigos, que passaram a copiá-los e a encaminhá-los para a publicação em revistas. A partir daí foi grande sua influência entre os poetas mais jovens, que começavam a reagir contra o que consideravam os excessos do romantismo. Seu primeiro livro de poemas, Flores do campo (1868), foi bem recebido pela crítica, mas não lhe amenizou a pobreza material. Interessado pelos problemas educacionais, João de Deus escreveu um guia de alfabetização, Cartilha maternal (1876), lançado no mesmo ano de suas Folhas soltas. Amplamente reconhecido, só em 1893 publicou Campo de flores, em que foram reunidos seus poemas líricos, epigramáticos e satíricos. João de Deus morreu em Lisboa, em 11 de janeiro de 1896.

      A Caridade 
 
Eu podia falar todas as línguas
             Dos homens e dos anjos;
Logo que não tivesse caridade,
Já não passava de um metal que tine,
             De um sino vão que soa.

Podia ter o dom da profecia,
             Saber o mais possível,
Ter fé capaz de transportar montanhas;
Logo que eu não tivesse caridade,
             Já não valia nada!

Eu podia gastar toda afortuna
             A bem dos miseráveis,
Deixar que me arrojassem vivo às chamas;
Logo que eu não tivesse caridade,
             De nada me servia!

    A caridade é dócil, é benévola,
             Nunca foi invejosa,
    Nunca procede temerariamente,
             Nunca se ensoberbece!

    Não é ambiciosa; não trabalha
    Em seu proveito próprio; não se irrita;
             Nunca suspeita mal!

    Nunca folgou de ver uma injustiça;
             Folga com a verdade!

    Tolera tudo! Tudo crê e espera!
             Em suma tudo sofre!

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